EMISSORA DE TV É INVADIDA POR CRIMINOSOS DURANTE TRANSMISSÃO AO VIVO NO EQUADOR

EMISSORA DE TV É INVADIDA POR CRIMINOSOS DURANTE TRANSMISSÃO AO VIVO NO EQUADOR

O jornalista equatoriano José Luis Calderón jamais imaginou que sua imagem rodaria o mundo como um dos protagonistas de uma cena trágica: uma arma longa foi apontada contra o pescoço dele, que também teve uma dinamite colocada no bolso do paletó, durante uma transmissão ao vivo, na última terça (09).

Na semana em que a invasão da TC Televisión, uma das principais emissoras de televisão do Equador, e o sequestro dos trabalhadores do canal chocaram o mundo, o repórter José Luis Calderón recebeu a CNN em sua casa, na cidade de Guayaquil.

Por motivos de segurança, o jornalista pediu que a entrevista fosse filmada em um fundo branco e que sua residência não fosse identificada.

Trabalhador há 23 anos do canal, ele conta que o ataque aconteceu em um dia normal de trabalho, em que a equipe de jornalismo estava em alerta devido ao estado de exceção decretado pelo presidente do Equador, Daniel Noboa.

A medida foi tomada após um dos prisioneiros mais perigosos do país, Adolfo Macías, conhecido como Fito, fugir da prisão, no último domingo (7).

A fuga gerou uma onda de violência, que acabou chegando aos estúdios da TC Televisión. Durante um noticiário, a equipe começou a escutar gritos e barulho.

“Não sabíamos do que se tratava. Um instinto de sobrevivência fez com que eu e duas colegas buscássemos um refúgio, e encontramos o banheiro do departamento de notícias. Nos mantivemos lá por 10 a 14 minutos, escutando barulhos, gritos, reclamações”, relata Calderón, explicando que enquanto estavam escondidos, eles ligaram para familiares e para equipes de resgate.

Mas o grupo foi descoberto por vários homens encapuzados e com armas longas, pistolas e até um machado, frequentemente apontado para os trabalhadores do canal. “Sob ameaças, eles nos levaram até o lugar onde o sinal estava fixo, que era de onde se transmitem os noticiários”, conta.

No trajeto até o estúdio, ele conta que os homens passavam a mão pelo corpo de suas colegas e roubaram correntes e outros objetos de valor. “O grupo de encapuzados nos manteve, em condição de reféns na área de estúdio, com o sinal no ar”, diz, lembrando que as portas estavam fechadas.

Calderón explica que os apresentadores do noticiário conseguiram se esconder, mas a equipe técnica e produtores e cinegrafistas não. Todos eram mantidos no chão, mas um dos criminosos o reconheceu, e pediu que ele se levantasse para passar uma mensagem. Esse foi o momento em que uma arma longa é colocada contra o pescoço do apresentador.

Ele conta que sentiu a pressão da ponta da arma: “Eu fazia um movimento [para trás] para me afastar [da arma]”, diz, contando que chegou a apalpar o explosivo que os criminosos colocaram no bolso do seu terno. “Eu sentia calma. Em algum momento até em que interagi com o sequestrado e disse: ‘quer que eu comunique algo?’ Mas eles estavam brincando na câmera, fazendo gestos, demonstrações de emoção, de força, de superioridade”, lembra.

Ele conta que o sequestro começou a se desarticular quando a polícia disparou contra as portas do estúdio: “Tiros foram escutados do outro lado, era a polícia tentando entrar nessa sala hermética (…) todos se dispersaram, nos jogamos no chão, meus companheiros gritavam para que a polícia não disparasse porque estávamos no meio dessa situação, já que os sequestradores dispararam de volta.”

Uma das balas ricocheteou e atingiu a perna de um cinegrafista, que está fora de perigo. Com a iminente invasão da polícia, os sequestradores se esconderam. Quando o grupo de reféns finalmente conseguiu sair da TV, com ajuda da polícia, e começaram a se identificar, descobriram que um dos criminosos estava camuflado entre eles: “Ele tinha roubado roupas da área de figurino e quando começou uma contabilização, ele saiu correndo, para a surpresa de todos”, lembra, contando que o homem foi perseguido por policiais e militares.

Calderón conta que, antes do episódio dentro do estúdio de TV, já esteve duas vezes com uma arma apontada para si durante transmissões ao vivo na rua. “Tive dois assaltos e roubos a mão armada e tive ideia da gravidade dos riscos que enfrentamos como jornalistas. Mas isso era na rua, nunca íamos imaginar que no nosso reduto iam atentar contra nossa integridade física e emocional”, analisa.

Fonte: cnnbrasil.com.br

Jornal Vale Tudo